O Grupo propõe discutir obras que contribuam para a formação humana dos participantes; intervenção junto à categoria; proposições para a defesa de uma educação pública, gratuita, laica e de qualidade. Construindo assim, uma intervenção qualificada na escola pública.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

JORNADA PEDAGÓGICA, PRIVATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO, DESVALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO: PODE ISSO CASEMIRO?

   A Secretaria Municipal de Educação de Feira de Santana, de tanto ouvir os professores reclamarem dos gastos exorbitantes com palestrantes/motivadores ligados à área empresarial que, todos os anos vem encher as cabeças dos nossos professores com os princípios da Pedagogia do Arco-Íris , resolveu mudar um pouco o direcionamento. No ano de 2012, o professor Casemiro Medeiros Campos, doutorando da Universidade Federal do Ceará, fará a conferência de abertura com o tema  “Saberes Docentes na Atualidade”.

   O presente palestrante apresenta o seu campo de pesquisa ligado a formação docente e gestão da Educação. No sentido de melhor conhecer sobre quem irá dialogar com nossa categoria, verificamos o que este produz através do seu site http://www.casemiroonline.com.br. Dentre os artigos escritos por este pesquisador vamos estabelecer o diálogo com o texto “A FORMAÇÃO DOCENTE”. A partir dele, iremos extrair nos seus fragmentos três elementos para a discussão: os nexos de sua proposta com o que vem ocorrendo na Rede Municipal; as contradições entre o discurso adotado pelo governo (ao trazê-lo como representante desta política) quando adentramos à prática social da educação em Feira de Santana e; as possibilidades da categoria organizada reagir a este estado de coisas.

   Neste artigo de opinião (seria arriscado dizer que este artigo é científico) o autor começa apontando o impasse que empresários encontraram a anos atrás, quando investiram na reforma de escolas sem sucesso na melhoria da aprendizagem. Diante disso, percebem que o foco deva ser na formação do professor. Em outro trecho, este chega a dizer que esta valorização do professor perpassa pela formação inicial e continuada, chegando até a apontar que melhoria dos salários se faz necessário. Para ele, investir no professor é o elemento chave para que se possa obter melhores resultados nas avaliações nacionais do ensino e de aprendizagem escolar.

   Ao final, o professor Casemiro chega a ser profético e apoteótico em sua afirmação, quando diz: “Não há segredos: a base da mudança na melhora da qualidade da escola encontra-se na formação dos professores e no acompanhamento do trabalho docente. Eis o nosso desafio: integrar na escola a gestão escolar e a docência!”. Ao leitor desavisado (talvez até alguns de nossos colegas que estarão na Jornada Pedagógica), estas informações ressoam como uma bela música aos ouvidos, anunciando novos tempos na educação de Feira de Santana. Todavia, precisamos ir um pouco mais além para a superficialidade dos fenômenos.

   Concordamos com o palestrante, quando ele anuncia a necessidade entre o atrelamento das boas condições de trabalho com uma formação consistente dos nossos professores. O problema que nos dois exemplos ele justifica implicitamente que deva ser a sociedade civil ( representado pelos “nobres” empresários)  a responsável por este novo momento de construção de um projeto educacional. Ele nega que existe um recurso público – FUNDEB – que foi uma conquista do movimento docente e que coloca  na pauta do dia cada vez mais a necessidade do Estado Brasileiro investir na educação. Enquanto a nossa categoria anuncia a urgência de investimento de 10% do PIB na Educação, o empresariado tenta sair na frente apresentando-se como portadoras de propostas educacionais para as escolas públicas.

Estranho... não acham? Neste contexto, nos perguntamos: do que vale a formação inicial e continuada se no concreto os professores estão submetidos a implementarem projetos organizados por empresas como possibilidade pedagógica? Analisando o quadro educacional do Município, já podemos perceber que esses inúmeros projetos já se proliferaram nas escolas municipais de Feira de Santana e, frente ao quadro de abandono pelo qual historicamente estes professores vem passando, muitos deles abraçam acriticamente como tábua da salvação pedagógica.

O segundo ponto a ser tratado está no que se refere ao que o autor destaca sobre a necessidade de se investir no professor, não somente na formação inicial, como na continuada. Neste ponto, queremos denunciar a contradição expressa. Ao longo dos oito anos de Governo José Ronaldo e ao término do governo Tarcísio Pimenta, constata-se um processo de retirada de direitos do Plano de Cargos e Salários. Fato que pode ser comprovado nas dificuldades em que os heróicos professores que se arriscarem em se submeterem a um programa de mestrado e doutorado precisam enfrentar, uma vez que o Governo não concede licença assegurando os vencimentos dos mesmos. As justificativas vão desde a inadequação do objeto de pesquisa à política educacional de Feira até aspectos geográficos (ou seja, para os gestores, não é interessante conceder a licença a quem se arriscar em fazer um curso de Mestrado na UEFS, por exemplo). Neste sentido, cabe indagar: é possível afirmar que o Governo Municipal vem investindo na formação docente?

    Como proposta que devemos tirar para este início de ano letivo é o de estarmos atentos às mensagens subliminares que insistem em transpassar as nossas consciências, travestidas em palestrantes renomados e de palavras doces que sempre fazem a síntese mais rasteira de que somente depende do professor para que a educação melhore. Utilizaremos a mesma lógica para dizer que somente depende dos professores (não pensando o cada docente de forma isolada, mas como aquele que pertence a uma categoria profissional) reagirem a esse processo de sucateamento, perda de nossa autonomia para decidir o que ensinar na escola, além dos impactos que sofremos com as condições de trabalho e salários.

   Convocamos os colegas neste início de ano letivo a refletirem sobre o que este governo prometeu em duas greves e não cumpriu. Precisamos de uma séria revisão do Plano de Cargos e Salários, pois, é flagrante a limitação entre a intencionalidade dos professores em progredir na carreira com a organização da política municipal de educação. Diante disso, só nos resta perguntar: pode isso Casemiro?



           "É preciso lutar... é possível vencer".
          GEED (Grupo de Estudos Educação em Debate)

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