PROFESSOR EM MOBILIZAÇÃO
De fato, como podia
Um professor em mobilização
Compreender por que sua aula
Valia mais do que um pão?
Na verdade, ele desconhecia
Algo que para ele teria muito valor:
Que o professor faz a luta
E a luta faz o professor.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que um professor dizia
Outro professor escutava.
E foi assim que o professor
No limite de sua precarização
Que estava acostumado a sempre dizer sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que a ausência do seu vale-refeição
Era o banquete do patrão.
Que o seu inalar do pó de giz
Era a sala de ar condicionado em que trabalha o seu patrão
Que a não aquisição da sua casa própria
Era o condomínio de luxo do patrão.
Que o seu famigerado vale-transporte
Era o carro do ano do patrão
Que aquilo que ele custeava para manter a sua aula
Era a propaganda do patrão.
Que o não-acesso ao enquadramento
Era o tempo de lazer do seu patrão
Que a farra da compra de lousas e bebedouros digitais
Era um custo sem explicação.
Que as reformas de fachada e as escolas improvisadas
Era o Prédio luxuoso da Secretaria de Educação
Que o seu estado de saúde cada vez mais pauperizado
Era o Plano de saúde do patrão.
Que a grande presença de estagiários nas escolas
Era a saída para o não-investimento na educação
Que sem um Plano de Carreira digno
O magistério não terá valorização.
E o Professor Precarino disse: Não!
E o Professor fez-se forte
Na sua resolução.
Sentindo que a violência do corte de salários
Não lhes causariam desmobilização
Um dia o gestor tentou apelar
Para um reajuste de conciliação
De sorte que foi levando
Para o final da negociação
Uma proposta de 4,31 em maio
E o complemento de 1,69 em julho para terminar a mobilização
Mas os professores
Chegaram a uma compreensão
Que eles viam coisas
Que nunca poderiam ser observadas pelo seu patrão
Os professores refletiam sobre seus estudos, horas de dedicação
Das noites em claro, corrigindo avaliação
Via também alunos que careciam de acompanhamento pedagógico e de atenção
Negadas por não haver livros didáticos e o cargo de coordenação.
E viam que os seus conhecimentos produzidos
Fazia o lucro do seu patrão
E que cada coisa misteriosamente havia
A marca de seu pensamento em ação.
E o Professor Precarino disse: Não!
- Loucura! – Gritou o patrão: Não vês os benefícios que te dou eu?
- Mentira! – Disse o Professor Precarino
Não podes dar-me o que é meu.
E um silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
E o professor ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
E uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
De que toda a sua luta
Não deveria ser em vão
Dentro daquela tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um professor que até então era desvalorizado
A um professor em mobilização.
Adaptado do poema de Vinícius de Morais, Operário em Construção.
"É preciso lutar... é possível vencer".
GEED (Grupo de Estudos Educação em Debate)
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